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quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Navios Negreiros

Interessante que quando Gandhi quis libertar a Índia dos ingleses, muitos falaram: "mas, Gandhi, temos uma divisão religiosa entre mulçumanos e cristãos do nosso povo. Talvez livre da Inglaterra nosso povo entre numa guerra civil". E ele retrucou: "nosso povo resolverá nossos próprios problemas. É melhor que se faça uma transformação interna do que ainda depender de um Estado escravizador".

Foi mais ou menos isso aconteceu de Brasil e Portugal. Só que artificialmente. Ainda estamos atados nos laços amortecidos e dependências colonizadoras dos antigos coronéis e da presença ipsilider dos resquicios da escravidão nos morros.

E nossa democracia parece ainda a balbucear algumas palavras quando arraigada numa infantil e engantinhadora transformação social.

Quem não acha que os presídios agora são nossos navios negreiros?

"E ri-se a orquestra irônica, estridente... 
E da ronda fantástica a serpente 
Faz doudas espirais ... 
Se o velho arqueja, se no chão resvala, 
Ouvem-se gritos... o chicote estala. 
E voam mais e mais... 

Presa nos elos de uma só cadeia, 
A multidão faminta cambaleia, 
E chora e dança ali! 
Um de raiva delira, outro enlouquece, 
Outro, que martírios embrutece, 
Cantando, geme e ri! 

No entanto o capitão manda a manobra, 
E após fitando o céu que se desdobra, 
Tão puro sobre o mar, 
Diz do fumo entre os densos nevoeiros: 
"Vibrai rijo o chicote, marinheiros! 
Fazei-os mais dançar!..." 
(Castro Alves; em Os Navios negreiros)

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