Poderia escrever um manifesto a favor do Diálogo. E se fosse escrever este manifesto, começaria dizer que os místicos e budistas deveriam não só aprender a ouvir, mas aprender a falar. Essa seria as duas grandes lições iniciais.
Uma grande equipe pode ser treinada sozinha? Qual o papel do técnico? "Aquilo que você é, o outro consegue enxergar muito melhor". As pessoas deveriam sugerir mais. E para sugerir mais, é preciso urgente que aprendam a conversar. Há muitos cursos de persuasão e convencimento para um mundo onde o marketing é massivo, quase doentio. Nós místicos estamos prontos para conversar?
Em alguns jogos que faço parte com alguns colegas (tênis e volei), notei que a equipe parece jogar muito melhor, quando alguém consegue identificar onde a outra pessoa pode melhorar. Isso acontece nas divisões do jogo (onde o levantador deve guiar a bola para o que vai bater) quanto pra o modo como segurar a raquete, mirar e acertar na bola.
A sugestão não substitui, nem acho que um dia substituirá, a auto-descoberta. A sugestão quando em terra fértil (é preciso humildade, discernimento e atitude), pode fazer a caminhada mais leve.
Um místico que não aprendeu uma forma de sugerir uma mudança nega-se a si mesmo a oportunidade que lhe foi dada de propor uma mudança a alguém que pode está em busca de somente um palpite. É preciso silenciar também. E onde está este equilíbrio? O silêncio pode se confundir com rejeição ou com não preocupação, o que não tem nada a ver com os pilares do misticismo (ao meu ver). É perigoso pois é um dos comodismos humanos permanecer na inércia quando o mundo exige algum posicionamento.
Muito se tem falado de sugestão: mas será que sabemos sugerir? Aprendemos a ouvir, mas sabemos sugerir? Não tenho referências bibliográficas, mas parece que para sugerir, precisamos nos colocar na situação, sempre. A intenção da fala, ao meu ver, nunca deve ser de correção, mas de compartilhamento. É preciso apertar o botão para dizer algo. Nem que seja concordar parcialmente.
Reza a lenda que o Papa Francisco, ao receber mais de dois terços dos votos, recebeu um palpite de um cardeal brasileiro para que "lembrasse dos mais pobres". É lógico que a vida toda do papa foi consagrada aos mais pobres, mas uma sugestão do brasileiro fez com que isso fosse lembrado num momento muito importante da sua caminhada. Fez até nascer a sugestão do seu nome Francisco, referência ao irmão italiano que tanto pregou o bem e a humildade.
Num manifesto ao Diálogo, se um dia escrevesse, terminaria dizendo que se as pessoas místicas conversassem mais, intercalando sempre o diálogo sincero com uma meditação reflexiva (a do espelho), elas potencializariam seus aprendizados. Não é uma geração de místicos tagarelas. É místicos que sejam capazes de conversar com o mundo a sua volta. Sinceramente acho que não sei me comunicar e dialogar corretamente. Parece que não somos criados para isso. Reza a lenda que Buda teve estágios de iluminação: a primeira, o facultou à meditação, a segunda o incitou a uni-lo à sociedade para viver de fato. O ascentismo utópico é um dos primeiros alertas que a Ordem Rosacruz prega aos estudantes iniciais.
Tenho sentido um pouco de dificuldade de compartilhar algo. É muito comum não receber feedback do que escrevo. E nunca sei onde posso melhorar, onde estou perdido ou me achei. Isso me tem instigado mais à meditação (parece-me, às vezes, como única alternativa). E esse não-retorno faz com que seja lido por mim como um pouco de censura: ou me excedi ou fui torpe. Mas continuo me refletindo. Os místicos deveriam se ajudar (me ajudem! rsrs).
Paz profunda!
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